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7 de setembro de 2011

PATETA FAZ HISTÓRIA #6 — set/11

Por E. Rodrigues & Rivaldo Ribeiro

Clarabela aparece em quase metade das sátiras de PATETA FAZ HISTÓRIA. Neste volume 6, ela finalmente vira protagonista, no papel de uma geniosa Cleópatra. É a primeira vez que veremos por aqui esta HQ — produzida em 1987 e engavetada até 2000, quando saiu numa coleção italiana de paródias Disney. Já Pateta Dr. Frankenstein nos remete àqueles quadrinhos anárquicos e profusão de gags verbais e visuais comuns às primeiras produções da série.


PATETA FAZ HISTÓRIA como Dr. Frankenstein
Por Planeta Gibi. Em Pateta Dr. Frankenstein, as ousadias gráficas da série chegam ao limite. Não há uma única página que siga o modelo convencional de organização dos quadrinhos. Alguns quadros até lembram aquelas ilustrações que evocam ilusões de ótica. Repare, por exemplo, na cena do jantar, onde Pateta e Mickey sentam-se à ponta de uma mesa e, após interferência do mordomo biruta, surgem do lado oposto do mesmo móvel. Ao longo de toda a história, uma profusão de escadas e personagens trocando de lados caoticamente num mesmo cenário reforçam essa impressão distorcida.

A detalhada riqueza visual é acompanhada por um tiroteio de gags verbais, não raro produzindo tiradas inesperadas: quem não se surpreende com a reação do abusado cavalo (falante!), logo na abertura? Bem, aqui cabe uma explicação. A HQ foi roteirizada por Greg Cosby, veteraníssimo artista Disney de incontáveis tiras e páginas dominicais de jornais — ou seja, com experiência adquirida durante anos a fio na arte de pontuar uma narrativa com piadas.

Como se poderia esperar, a história nada tem de terror. Ao contrário, faz troça com os clichês do gênero a cada cena, transformando em pastelão o clima exageradamente soturno do castelo de dr. Frankenstein. E nem precisava, mas ainda somos apresentados a um mordomo para lá de maluco, que rouba a cena a cada aparição. Para completar, Pateta cria o monstro à sua imagem, o que garante ao leitor mais comédia, sobretudo pelo ar aparvalhado e por vezes infantil da enorme criatura.

A introdução brasileira produzida especialmente para a primeira vez que essa história foi publicada no Brasil, em 1982, rendeu uma piada interna. Mickey e Pateta estão no cinema aguardando o início da sessão quando notam um ser estranho atrás deles. Pateta explica que se trata de Acácio, que havia feito o papel da criatura na adaptação que estavam para assistir. Pois a citação não foi das poucas que os artistas dos Estúdios Abril fizeram com o arte-finalista Acácio Ramos, notório "figurante" das produções Disney — e não só, diga-se. Até com Luluzinha e Os Trapalhões ele chegou a contracenar.

O monstro criado por Frankenstein já apareceu várias vezes nas histórias em quadrinhos Disney, ora como o próprio, ora vivido por algum personagem famoso. Ou apenas referenciado, como na hilária HQ Falha de Comunicação, publicada em PATETA 3 (ago/11), onde Pateta e Horário, impressionados com uma versão de Frankenstein a que acabaram de assistir, acabam causando uma enorme confusão para se livrar de um suposto monstro criado pelo Dr. Sabe-Tudo.

A obra-prima de Mary Shelley também está associada a outro momento histórico da Disney. O último desenho animado de Mickey Mouse produzido para o cinema é uma sátira de sua criação. Indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação em 1996, Mickey e seu Cérebro em Apuros (Runaway Brain) traz nosso herói emprestando (à força) seu cérebro para um monstro criado por um certo dr. Frankenollie (brincadeira com Frank Thomas e Ollie Johnston, homens de confiança de Walt Disney). Esse cientista-macaco, a propósito, pode bem ser considerado uma adaptação do Professor Ecks, criação das tiras de Floyd Gottfredson dos anos 1930. Participam do curta, além de Pluto e Minnie, o vilão João Bafo-de-Onça — claro, no papel da criatura. Apesar de menções a King Kong e a O Exorcista (Mickey parodia uma cena ultraclássica do filme), o ritmo é bem humorado e, sobretudo no início, faz questão de registrar a época em que se passa, exibindo jogos de videogame e até uma miniatura da nave de Star Trek. Ainda assim, é incomum o desenho ser exibido na televisão. Mesmo em vídeo, só está disponível em Disney Treasures Mickey em Cores Vivas Volume 2, justamente fechando a cronologia das produções com o camundongo.

PATETA FAZ HISTÓRIA como Dr. Frankenstein
Roteiro: Greg Crosby
Desenhos: Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Rubén Torreiro
Tradução: José Fioroni Rodrigues
Publicada primeiro em 1979



PATETA FAZ HISTÓRIA no Egito de Cleópatra
Por Planeta Gibi. Este é o único episódio da série Pateta Faz História cuja protagonista é uma mulher. E quem melhor para assumir esse papel do que a versátil Clarabela? Coadjuvante em quase metade das produções desta coleção, Clarabela encontra aqui um papel à altura de sua personalidade forte.

A personagem, surgida exatamente no curta de estreia de Mickey Mouse, Plane Crazy (produzido alguns meses antes do afamado O Barco a Vapor, de 1928), já demonstrou ter personalidade madura, forte, ideal para fazer as vezes de mãe de Pateta em boa parte dessas histórias. Mas também para viver uma mulher firme como Sarah Bernhardt (que vimos em Pateta Eiffel) ou uma marcante Madame de Pompadour (que veremos em breve, em Pateta Casanova).

Qual outra criação Disney faria melhor? Minnie, eterna romântica, não se daria bem num embate, por exemplo, com a figura paterna durona, recorrente na vida desses personagens revividos por Pateta — que ela não nos ouça, mas nem estatura para isso Minnie tem! Não à toa, sua participação nesta coleção se resume a aparições em dois únicos episódios. E que tal Margarida? Bem, já deu para notar que aqui não estamos no âmbito da Família Pato. Além disso, a namorada de Donald já teve seu grande momento: quem se esqueceu da diva surgindo como Cleopata na História e Glória da Dinastia Pato, prestigiada saga italiana reeditada pela Editora Abril há dois anos?

Clarabela tem outro ponto a seu favor. Dentre os três mais famosos nomes femininos dos quadrinhos Disney, ela é a única francamente livre. Assim, nada impede que nesta série ela flerte com João Bafo-de-Onça ou mesmo despose Pateta! Ainda mais porque Horácio, muitas vezes visto como par romântico da personagem, nunca dá as caras por aqui.

Mas, então, qual papel caberá a Pateta nesta HQ? Bem, até nosso astro aparecer, Clarabela Cleópatra passa os dias a reclamar de sua vida entediante, cercada de gatos (animais pelos quais os egípcios eram fascinados). Num passeio de barco pelo Nilo, a rainha precipita-se no rio e é resgatada justamente pelos pescadores Pateta e Mickey. O que se segue é uma hilária comédia de erros, onde ninguém acredita que ela seja de fato Sua Alteza. Quando todos finalmente se convencem, nossos amigos ainda são surpreendidos por uma proposta de casamento.

João Bafo-de-Onça, num raro papel de destaque nesta coleção, parte de Roma para missão diplomática no Egito, a mando de Júlio César. A intenção do vilão, contudo, não é das melhores. A partir daí, Pateta tentará alertar a rainha do risco que corre, mas a tarefa não será fácil, dado o comportamento genioso de Cleópatra.

Comparada com a HQ anterior deste volume, Cleópatra tem um visual para lá de comportado. Mas o humor característico da série está presente, como nas citações anacrônicas — que desta vez avançam séculos para citar a batata (que só sairia do Peru para a Europa no século 16) ou as agruras dos engarrafamentos contemporâneos (que tal ficar preso no trânsito da Via Ápia ou do Farol de Alexandria?).

As referências cômicas aos fatos também pontuam a trama. Um bom exemplo disso é o episódio do tapete: a verdadeira Cleópatra teria se apresentado a César enrolada em um. Na HQ, essa sequência é mostrada com o humor habitual, incluindo uma citação mordaz à notória feiúra da rainha.

Pateta no Egito de Cleópatra foi o penúltimo episódio da série a ser publicado, em abril de 2000, mais de oito anos depois de Pateta Daniel Boone ter sido lançado. Contudo, sua produção remonta há pelo menos treze anos antes, quando foi registrada pela Disney. Seu roteirista, Carl Fallberg (1915-1996) foi parceiro constante de nomes como Paul Murry, Tony Strobl e Jack Bradbury. Produziu mais de 500 HQs e assinou uma dúzia de roteiros de Pateta Faz História, notadamente os derradeiros. Desses, dez permaneciam inéditos no Brasil, até agora. Com esta coleção, sua obra disneyana se aproxima da publicação completa no Brasil.

PATETA FAZ HISTÓRIA no Egito de Cleópatra
Roteiro: Carl Fallberg
Desenhos: Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Rubén Torreiro
Tradução: Marcelo Alencar
Produzida em 1987 e publicada primeiro em 2000


Editora Abril, coleção em 20 volumes semanais, 100 páginas cor, formato 14,7 x 20,7 cm, R$ 9,95
Editor: Paulo Maffia
Biografias: Júlio de Andrade, Filho
Introduções das HQs: Rivaldo Ribeiro






JOGO DOS 7 ERROS



Castelo do filme Jovem Frankenstein (Young Frankenstein, 1974 20th Century Fox)
X morada de Pateta Dr. Frankenstein

20 comentários:

  1. Parabéns pelos textos, de tamanha clareza e lucidez que nos remete à história e aumenta a expectativa pela leitura da publicação. Ótimo trabalho. As coleções temáticas nos quadrinhos Disney são fascinantes... Qual será a próxima? Tomara que não demore muito para termos algo, sucedendo a excelente Pateta Faz História. Esse formato e preço é ótimo para colecionar. E a periodicidade semanal é super legal, podemos completar rapidamente a coleção. Bons tempos esses que vivemos, nos quadrinhos Disney. Obrigado Paulo Maffia, pelo empenho e aos amigos do Planeta Gibi pela presteza em colaborar. Abraços.

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  2. Oi, Paulo. Ficamos muito gratos pelos comentários, mesmo. Bem, a próxima coleção anunciada é Disney Essencial. Mas apostamos mesmo no sucesso de Walt Disney Apresenta (em estudo). Grande abraço.
    E.Rodrigues

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  3. Oi,pessoal do planeta do que se trata esse "Walt Disney Apresenta"? HQs?!:p

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  4. Ao pensar nos nomes "WD apresenta" e "disney essencial", acabo imaginando uma coleção nos mesmos moldes.

    Seria algo do tipo "I Mitici Disney?"?

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  5. Não. Disney Essencial seria a versão brasileira da espanhola Serie Oro. Walt Disney Apresenta é outra coisa, um título com seleções feitas aqui.
    (Estranho, mas já havíamos respondido isso aqui e o Blogger simplesmente apagou.)

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  6. Os textos sobre a coleção, como sempre, bem caprichados e esclarecedores. Parabéns!

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  7. ótimo site, descobri hoje.
    Uma questão : a minha edição Frankenstein/Cleópatra veio com erro de impressão ,depois da página 67 , é reimpressa a página 35 em diante, ou seja, a história de Cleópatra para na página 67 e o resto é só repetição da 1a história. Aconteceu isso com mais alguém ???

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  8. Fui na banca agora , o jornaleiro abriu 3 revistas , 2 tinham esse mesmo problema e a outra estava ok. Troquei com ele ... obrigado

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  9. É uma pena. A série oro disney é "sem graça" perto do que poderia ser a I Mitici Disney.

    Vcs sabem qual o motivo de tanta inspiração em séries espanholas (CLD e série oro) e não nas italianas, que seriam a meu ver as melhores e mais completas séries?

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  10. Saber eu não sei. Imagino que a Disney ofereça o pacote. Sei que CLD foi oferecida assim, para quem quisesse (um jornal, por exemplo). Aí a Abril fez valer seu contrato de primazia na publicação de HQs. E mexeu o quanto conseguiu no conteúdo. Até ser tolhida, como sabemos.
    E.Rodrigues

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  11. Informação bem legal essa sua. Faz uma matéria sobre essas coisas de bastidores, hehehe.

    Meu sonho é mitici disney aqui. A propósito, vcs tem conhecimento da ótima "disney story" da de agostini? Vcs pensam em vender a coleção nacional?

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  12. Disney Story é daqueles sonhos e consumo de qualquer colecionador, não? Desde que saiu na Itália (era bem divulgada em Topolino - acho que até que postamos a imagem da propaganda de lançamento por aqui) só estávamos esperando chegar aqui (como Louças Disney, o encalhe de lá acaba sendo distribuído aqui - pelo menos é o que parece). O Planeta Gibi não comercializa esses itens da Planeta (que costuma vender essas coleções por assinatura). Assim que possível, faremos um post sobre a coleção.
    E.Rodrigues

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  13. Ok, vi até hoje apenas no blog do amigo Paulo Gibi, que gentilmente me enviou a primeira edição. No caso italiano não creio que seja um encalhe, afinal teve que ser feita a tradução do material.

    O interessante é que a própria editora não divulgou seu maravilhoso produto.

    Falar nisso, outro sonho que tenho por aqui é algo similar a "Topolino story"

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  14. É uma pena que o Brasil só vive de copiar coleções dos outros. Seria tão bom se um tipo de coleção Disney fosse realmente criada por aqui.

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  15. Contatamos a Planeta DeAgostini. A coleção Disney Story está sendo lançada somente em algumas cidades de São Paulo (Araçatuba, Assis, Botacatu, Guaratinguetá, Itapetininga, Jaú, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Rio Claro, Taubaté e mais algumas). A editora garante que a coleção também será lançada em outras praças, como a cidade de São Paulo (mas não têm data certa para isso no momento). Quanto a assinaturas, "somente em 2012".

    Sergio: quando eu falei de encalhe, referia-me ao brinde. Os fascículos são sempre traduzidos (e geralmente impressos na Espanha).

    Abraços.

    E.Rodrigues

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  16. Obrigado pela informação em primeira mão como sempre Edenilson.

    Vou informar aos amigos do Projeto Inducks

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  17. Agora que me liguei... IMPRESSOS NA ESPANHA... sabem pq?

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  18. Globalização, provavelmente. Muitos CLD foram impressos no Chile; álbuns em capa dura da Abril vieram do Uruguai; os da Panini, costumam ser da Indonésia; os americanos, da Boom! e da DC, da China... Planeta deve enviar para cá tudo pronto da Europa.

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  19. Loucura, loucura, loucura. N tem gráfica que preste no país, rsrs

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