PATETA FAZ HISTÓRIA como Tutancâmon
Por Planeta Gibi. Muitos episódios desta coleção começam retratando a infância das personalidades satirizadas, com Pateta aprontando das suas desde bebê. Curiosamente não é o que ocorre neste, onde o personagem surge numa fase adulta que na verdade nunca existiu, pois Tutancâmon foi coroado quando tinha cerca de 9 anos de idade e morreu ainda adolescente, por volta dos 18.
Tal recurso serve para que a HQ liberte-se do que se conhece da história para usar livremente os costumes e símbolos do Antigo Egito. Só assim podemos nos divertir com Pateta à procura de um pedreiro (Mickey) para erigir as pirâmides — que de fato já estavam prontas há muitos séculos, tanto quanto a famosa Esfinge de Gizé, mostrada aqui ainda em construção.
Aliás, finalmente ficamos sabendo porque a esfinge perdeu seu nariz: ele era uma enorme (e perecível) cenoura, como podemos constatar num dos quadrinhos! Em outro caso, aproveita-se de lacuna histórica para encaixar uma piada. E assim conhecemos, devidamente identificados com plaquinhas, os sarcófagos dos pais do faraó, apesar de o pai de Tutancâmon ter convivido com ao menos parte do reinado do filho e de sua mãe ter identidade desconhecida até hoje.
Não para por aí. Logo na abertura, o cachorro se coçando é uma referência a Anúbis, deus egípcio dos mortos, cujo corpo era de homem e a cabeça, de chacal. E as pilastras com gravações absurdas são uma menção ao Templo Luxor, construído às margens do Nilo, cujos muros e colunas são mesmo repletos de inscrições — que ajudaram os estudiosos a esclarecer muitas passagens históricas do Egito, inclusive sobre a paternidade do Rei Tut (como o faraó também costuma ser chamado, por mais que isso irrite Pateta!).
Nas páginas seguintes, brincadeiras com hieróglifos (decifrados no nada prático dicionário de pedra trazido pelo conselheiro ou servindo como divisão dos quadrinhos, com escaravelhos e cruzes ansatas, mas também com torneira pingando, tubo de creme dental e até uma lâmina de barbear) e menção a objetos diversos, como a lira tocada entre os chifres de um aborrecido ruminante — remetendo, a um só tempo, à presença da música na civilização egípcia e à utilização de ossos na confecção dos instrumentos.
Espalhados aqui e ali, mais anacronismos e surrealismo, incluindo salames e linguiças sendo curados em ataduras de múmia, um camelo descendo escada, um táxi-hipopótamo, rádios, um sarcófago-geladeira... Enfim, em cada página um deleite visual.
É dito que Tutancâmon foi o único faraó que não teve seu túmulo profanado. Bem, a falta de empenho dos meliantes em descobrir sua tumba talvez se explique pela quantidade de tralhas que Pateta decidiu ali guardar!
Vale registrar que Tutancâmon e Beethoven foram as personalidades satirizadas no número de estreia da primeira coleção de Pateta Faz História lançada pela Editora Abril, em 1981. O leitor ainda levou para casa um adesivo fofinho de Pateta no papel do jovem faraó. Decorridos mais de trinta anos, o episódio no Antigo Egito ganha aqui sua primeira republicação no Brasil.
PATETA FAZ HISTÓRIA como Tutancâmon
Roteiro: Cal Howard
Desenhos: Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Rubén Torreiro
Tradução: José Fioroni Rodrigues
Publicada primeiro em 1979
PATETA FAZ HISTÓRIA como Rip Van Winkle
Por Planeta Gibi. Os episódios de Pateta Faz História podem ser divididos em duas fases. Na primeira, cada página trazia três fileiras de quadrinhos, num estilo mais experimental e eventualmente caótico. São 17 histórias nesse estilo, publicadas originalmente até 1981. No ano seguinte, iniciou-se a nova fase, com quatro tiras por página e um estilo visual mais comportado. Pateta Van Winkle é justamente a última HQ da primeira fase que permanecia inédita no Brasil até aqui.
Trata-se de uma sátira ao livro escrito por Washington Irving (que é homenageado pelo roteirista na página 83). As narrativas de livro e HQ correm de maneira bem semelhante, à exceção, é claro, da inclusão das piadas nos quadrinhos.
Os parentes de Pateta Van Winkle têm participação fundamental no desenrolar da trama. Sua esposa, uma notória megera, é vivida perfeitamente por Clarabela. Já bem habituada a interpretar personagens histéricas em Pateta Faz História, aqui ela extrapola seus limites de tagarelice e chatice. Sua fúria chega ao extremo quando atira o marido janela afora. Apesar de Pateta destruir com a cabeça o tronco de uma árvore enorme, para sorte de todos estamos no mágico mundo dos quadrinhos: além de Pateta não sofrer nenhuma sequela, nas páginas seguintes até a árvore aparece intacta!
Curiosos são os filhos do casal. O menino traz as feições do Pateta júnior que vimos em outras produções da série e irá reaparecer no final da história, já adulto. A menina é um achado: uma miniatura de Clarabela que, se porventura utilizada antes em quadrinhos, decerto ocorreu com extrema raridade.
Mickey Vandermouselen vive Peter Vanderdonko, o único que irá reconhecer e acreditar na história de Pateta Van Winkle em seu retorno à vila, duas décadas após sua fuga da ira da esposa.
No conto, Winkle junta-se a estranhos homenzinhos na floresta, bebe licor até adormecer e só acorda vinte anos depois. Pateta segue destino semelhante, mas apesar de um barril de bebida estar por perto, o motivo de seu sono é fruto de uma de suas trapalhadas. O propósito dessa alteração parece ter apenas motivos humorísticos, já que momentos antes Mickey e Pateta aparecem bebendo cerveja e discutindo longamente o preço da bebida com a dona da taverna. Situação que, decorridos mais de trinta anos desde a produção desta HQ, seria impensável hoje em quadrinhos desse gênero.
Duas outras alterações significativas existem em relação ao conto. O cachorro Lobo não acompanha Pateta em sua fuga, como ocorre com Winkle da literatura (mas ele pode ser visto uma única vez na HQ, saboreando um osso, na página 56). E se ao reencontrar a filha Winkle é amorosamente acolhido... bem, não vamos aqui contar o final da história, mas pode-se dizer que aquela clarabelinha cresceu e herdou o gênio da mãe.
Muitas HQs Disney mencionam ou são inspiradas em Rip Van Winkle. Uma dessas versões, assinada por Paul Murry, veremos no volume 20 desta coleção. Noutra, publicada aqui em PATO DONALD 1270 (1976), Pateta toma uma poção e dorme por alguns minutos, mas como acorda com uma barba enorme, lembra logo de Winkle e acredita ter dormido por vinte anos. Também merece destaque A Viagem, de MICKEY 593 (1999), onde o camundongo é atingido acidentalmente por uma fórmula do Dr. Nozelo e acaba dormindo por 50 anos. Acorda muito velho e assustado, numa Patópolis diferente, onde somente Minnie o reconhece.
PATETA FAZ HISTÓRIA como Rip Van Winkle
Roteiro: Greg Crosby
Desenhos: Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Carlos Valenti e A. Rubén Torreiro
Tradução: Raoni Naraoka
Publicada primeiro em 1979
Para mim PFH como Tutancâmon é especial demais. Por muito tempo acompanhei e me interessei por egiptologia e gostava muito de estudar as dinastias faraônicas e toda a estrutura social e política dos Egito antigo. Ainda tenho muito material e me pego às vezes relendo sobre o Egito, que continua vivo e fascinante aos meus olhos. Ver o Pateta vivendo na pele de Tutancâmon é um grande barato. Sobre a mãe de Tutancâmon acredita-se ter sido uma das mulheres do faraó, não necessariamente a esposa principal. O que importa é que sua tumba e pertences foram realmente encontradas intactas o que deu uma luz tremenda para a compreensão dos costumes antigos. A descoberta da tumba de Tutancâmon ainda é a maior descoberta arqueológica egípcia de todos os tempos. Acompanho também o trabalho de Zahi Hawass grande arqueólogo, mesmo depois de seu afastamento político do conselho de antiguidades egípcias, para mim ele é o maior arqueólogo do século 20. Enfim... quadrinhos Disney e cultura, lado a lado, caminhando juntos para o enriquecimento dos leitores, só depende da curiosidade de cada um... Abs.
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