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5 de outubro de 2011

PATETA FAZ HISTÓRIA #10 — out/11

Por E. Rodrigues & Rivaldo Ribeiro

Dois épicos em PATETA FAZ HISTÓRIA desta semana. Pateta Ulisses abusa da metalinguagem com criatividade. Sempre surpreende a inteligência desses quadrinhos Disney, tão acima de praticamente qualquer coisa do gênero. A sacada de mostrar Pateta Ulisses nomeando Homero como seu biógrafo oficial é espetacular: encerra-se uma infindável discussão acadêmica sobre o verdadeiro autor da Odisseia, nada menos. Pateta Aníbal é o episódio inédito deste volume. Outro deleite, com Bafo... bem, leia tudo a seguir.  


PATETA FAZ HISTÓRIA como Ulisses
Por Planeta Gibi. Pateta Ulisses satiriza o poema clássico Odisseia, de Homero (em grego, Ulisses é Odisseus). Seus eventos ocorrem na sequência dos relatos da Ilíada, obra atribuída ao mesmo autor. Uma pontinha da Ilíada é mostrada na abertura da história, com Pateta, Mickey e demais guerreiros deixando para trás a cidade de Troia arrasada. Pateta chega a fazer piada com o icônico cavalo de madeira recheado de soldados. Também da Ilíada empresta-se aqui o príncipe de Argos Diomedes, na pele de Mickey. Numa licença poética, Mickey Diomedes acompanhará Pateta Ulisses em seu retorno ao lar, eventualmente salvando-lhe a pele.

Pateta Ulisses recorre com mais frequência à metalinguagem do que outros episódios da série. Pateta passa boa parte da história lendo suas falas em placas mostradas por uma espécie de contrarregra. Além disso, diversas passagens parecem querer lembrar o leitor de que tudo se trata de uma ficção, como se estivéssemos acompanhando um filme ou uma peça de teatro. No limite, o próprio Homero acaba surgindo em cena — e Pateta dá por encerrada a discussão sobre a autoria da Odisseia, tantas vezes questionada por estudiosos.

O humor irônico da série também se apresenta bastante afiado. Enquanto que na Odisseia a ira do deus Éolo se deve ao descuido de Ulisses com o saco cheio de ventos do qual deveria ter tomado conta, na HQ há uma desconcertante explicação para a fúria do deus do vento, que açoita impiedosamente a embarcação dos guerreiros terminando por lançá-los na ilha dos temíveis ciclopes.

O mito grego Ulisses é conhecido por sua argúcia. Ardiloso, livra-se do ciclope Polifemo embebedando-o com vinho, ferindo seu olho e usando um simples jogo de palavras. O desempenho do ingênuo Pateta no papel do astuto mito grego, como é de se esperar, rende boas piadas. Ele sequer consegue perceber o risco que correm de ser devorados pelo monstro, chegando a oferecer-lhe um fósforo para ajudar na preparação da "comida". A salvação chega com Mickey Diomedes, sem vinho nem bebidas. Mas os quadrinistas encontraram uma maneira de referenciar a solução encontrada por Ulisses no poema: uma garrafa e um copo aparecem em destaque num canto da caverna, repare.

Nos quadrinhos, vale mencionar que o volume 5 da coleção CLÁSSICOS DA LITERATURA DISNEY foi dedicado, justamente, aos dois poemas atribuídos a Homero. Ilíada e Odisseia, porém, foram revividas pelos membros da Família Pato e num contexto histórico contemporâneo.

PATETA FAZ HISTÓRIA como Ulisses
Roteiro: Cal Howard
Desenhos: Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Carlos Valenti
Publicada primeiro em 1979


PATETA FAZ HISTÓRIA como Aníbal
Por Planeta Gibi. Pateta Aníbal começa mostrando os truques de um dos maiores estrategistas militares da História, como a formação de tropas que envolvia e surpreendia os inimigos e o uso de elefantes de guerra para intimidar e avançar sobre os oponentes.

Mais divertida do que soberba, a falta de modéstia de Pateta acaba revelando ser seu ponto fraco. Mas seu maior inimigo, o bárbaro Bafo-de-Onça, consegue aniquilar sua auto-confiança e Pateta acaba resignando-se a uma posição de bobo-da-corte. Tanto é que decide se apresentar como palhaço, acompanhado de seus elefantes, no Circo Máximo de Roma. De fato, o general cartaginês era bem convencido de suas qualidades, admiradas até por seus oponentes, que buscavam copiar suas estratégias de guerra, inclusive para tentar vencê-lo. Mas ele nunca cogitou, claro, de se apresentar como palhaço no Circo Máximo. A arena, próxima ao Coliseu, foi realmente gigantesca, capaz de comportar um público de 250 mil pessoas, sendo por séculos o principal espaço de eventos e diversão em Roma.

A ideia de surpreender Roma invadindo a Itália pelo norte, a partir da atual Espanha e cordilheiras de Pirineus e Alpes foi, provavelmente, o maior feito bélico de Aníbal. Muitos de seus homens, cavalos e elefantes (sim, de fato eles o acompanharam até lá) não resistiram às condições climáticas e à fome, mas Aníbal avançou impávido sobre várias cidades da atual Itália. Só decidiu não alcançar Roma e retornou. Na HQ, esse episódio é devidamente registrado. Porém, Pateta e Mickey desviam-se para o norte não por estratégia, mas por conta de cilada bem preparada por seus inimigos.

Ainda que na HQ Aníbal seja mostrado como um herói lutando contra hordas de bárbaros e ladrões, na verdade o general travou disputas contra Roma por motivos bem mais mundanos, como a hegemonia do comércio no Mar Mediterrâneo. Aníbal liderou aquela que é considerada a mais sangrenta batalha da Antiguidade, onde massacrou dezenas de milhares de oponentes usando táticas até hoje estudadas em escolas militares mundo afora. Pateta Aníbal, como é de se esperar de uma sátira histórica, envolve tudo com humor e pastelão, sobretudo nas muitas cenas centradas em Bafo e sua atrapalhada e não muito fiel gangue.

O quadro cômico é completado por Pateta dando um nó na História, ao mencionar seu tio Xenofonte esquiando na Armênia. Bem, o grego Xenofonte, soldado, mercenário e discípulo de Sócrates de fato avançou sobre as terras dos armênios, mas ele viveu mais de um século antes de Aníbal. Já o esqui nas geladas montanhas da Armênia é um dos pontos altos de seus esportes de inverno — mas é improvável que fosse praticado desde a Antiguidade!

PATETA FAZ HISTÓRIA como Aníbal
Roteiro: Carl Fallberg
Desenhos: Anibal Uzál e Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Rubén Torreiro
Publicada primeiro em 1985


Editora Abril, coleção em 20 volumes semanais, 100 páginas cor, formato 14,7 x 20,7 cm, R$ 9,95
Editor: Paulo Maffia
Biografias: Júlio de Andrade, Filho
Introduções das HQs: Rivaldo Ribeiro




Um comentário:

  1. "Pateta Faz História" é uma rara (e deliciosa) oportunidade de ver múltiplos talentos se cruzarem, tanto nos textos como na arte dos desenhos. Unir de forma satírica fatos históricos e lendas heróicas em uma coleção de quadrinhos assim, é como assistir a um filme épico e de comédia ao mesmo tempo, num cinema preparado só pra você. A coleção já está da metade e é tão gostosa de ler e colecionar que a gente só pode ficar agradecido... Espero que esse espaço criado com a "Clássicos da Literatura Disney" e agora com "Pateta Faz História" seja perene, e tenhamos logo mais coleções nesse formato e periodicidade.

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