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12 de outubro de 2011

PATETA FAZ HISTÓRIA #11 — out/11

Por E. Rodrigues & Rivaldo Ribeiro

PT Barnum é comumente apontado como o primeiro astro do showbiz a ficar milionário por sua arte. Também costuma ser associado à frase "Nasce um otário a cada minuto". Conforme avançar na leitura de Pateta Barnum, HQ inédita no Brasil até este PATETA FAZ HISTÓRIA #11, o leitor irá se deparar com tantos absurdos que pensará serem vindos da criatividade dos quadrinistas. Mas trata-se da HQ desta coleção que segue mais fielmente os fatos da vida do biografado! Veja ainda: tudo sobre 20.000 Léguas Submarinas.


PATETA FAZ HISTÓRIA nas 20.000 Léguas Submarinas
Por Planeta Gibi. Pela primeira vez nesta coleção, o papel de maior destaque cabe a Mickey, aqui interpretando o Professor Aronnax, convidado a participar da expedição que buscará o suposto monstro marinho que vem destruindo embarcações nos mares do Sul. Pateta, antes do embarque, vive o papel de si mesmo. Já na fragata, faz as vezes do arpoador Ned Land. O trio da obra original completa-se com um personagem novo, Gualberto Blablá, na pele de Conseil, o assistente de Aronnax. Outra figura, um velho e surdo arpoador cuja função no início da HQ é basicamente divertir o leitor com sua má sorte, irá se revelar de grande importância ao final. Outro personagem Disney que ganha destaque neste episódio é João Bafo-de-Onça, como Capitão Nemo (mas ele é simplesmente chamado de Bafo, enquanto que o submarino nuclear Náutilus é chamado jocosamente de "Náuseus").

A base da HQ é a quadrinização produzida em 1955 do longa-metragem da Disney. Alguns diálogos chegam a ser reproduzidos integralmente, como no momento em que o trio de náufragos localiza a escotilha do submarino. No interior do Náuseus, a HQ descola-se do filme e parte em rumo próprio. Pateta informa que Bafo é o maior inimigo de Mickey e a trama se desenrola e finaliza num estilo similar ao das grandes aventuras produzidas nos anos 1960 pelo mestre Paul Murry. Porém, sem perder a verve cômica esperada nesta coleção. A justificativa para o estrago que causa nos navios com seu artefato não carrega um traço sequer da tortuosa nobreza do Nemo original: aqui, o bandido detesta rutabagas (uma espécie de nabo) e afunda todos os navios carregados desse vegetal na esperança de erradicá-lo do mundo.

Ah, sim... o leitor ficará curioso em saber a qual filme Pateta se refere na HQ. Trata-se do cult A Ilha das Almas Selvagens (Island of Lost Souls, 1932; lançado em 1933 pela Paramount), baseado no livro A Ilha do Dr. Moreau, de H.G.Wells (também autor de Guerra dos Mundos, O Homem Invisível e A Máquina do Tempo, entre muitos outros). Foi pelo uso nesse filme que a frase "os nativos estão inquietos esta noite" tornou-se um cliché. O homem de branco com chapéu panamá, citado e imitado na HQ por Pateta, foi feito por Charles Laughton (dr. Moreau). O filme ganhou remakes, dentre eles um que alcançou notoriedade por ser estrelado por Marlon Brando, em 1996.

Este episódio da série Pateta Faz História foi publicado pela primeira vez nos EUA em 1978, em versão capa dura distribuída como brinde numa promoção de um creme dental — tratamento igualmente dado aos capítulos A Volta ao Mundo em 80 Dias e Pateta Van Winkle. No Brasil, Pateta nas 20.000 Léguas Submarinas estreou em ALMANAQUE DISNEY 190 (1987).

20.000 Léguas Submarinas, o filme, teve mais de uma adaptação para os quadrinhos disneyanos. A mais popular delas, citada acima foi desenhada por Frank Thorne e saiu em 1955 no EUA (em FOUR COLOR #614). No Brasil, foi primeiro publicada em DIVERSÕES ESCOLARES, em seis capítulos, a partir da edição #12 (Editora Abril Didática, 1961-62). No ano passado, pudemos revê-la em CLÁSSICOS DA LITERATURA DISNEY #12. Essa edição de CLÁSSICOS, a propósito, também mostrou Mickey e Pateta viajando no tempo numa máquina do Professor Zapotec e encontrando-se com Nemo.

A versão de 20.000 Léguas publicada em CLD #12 manteve praticamente a tradução da Abril feita em 1969. No entanto, o nome de alguns personagens foram ajustados. Assim, Prof. Arronax passou a ser chamado de Prof. Aronnax (como aparece no livro e no filme; a versão "Arronax" deve ter sido utilizada pela Abril apenas para aproximar a grafia da pronúncia), e seu assistente, Conseil, foi alterado para Conselho (de fato, há traduções do livro que mostram assim grafado o nome do assistente; no entanto, nem nos quadrinhos Disney nem nas legendas do filme o nome é traduzido para o português).

E MAIS...
A HISTÓRIA
Em 1868, uma fragata armada enviada para procurar um fabuloso destruidor de embarcações é afundada. Três de seus passageiros são resgatados —  um arpoador, Ned Land, junto com um professor especialista em criaturas do mar, Aronnax, e seu assistente, Conseil. Eles descobrem que o "monstro" é na verdade o primeiro submarino construído pelo homem, o Náutilos, comandado pelo Capitão Nemo, um lunático que almeja dividir com o mundo seus segredos de energia nuclear, mas somente em seus termos. Land salva Nemo das garras de uma lula gigante e alerta o mundo sobre a localização da ilha que é a base secreta do capitão. O destino de Nemo no filme não é igual ao do livro, registre-se. O título da história é referente à distância percorrida pelo artefato em suas aventuras diversas. Já o nome Náutilos é uma deferência ao submarino desenhado por Robert Fulton e construído pela França em 1800.

O FILME
20.000 Léguas Submarinas estreou nos cinemas americanos em 23 de dezembro de 1954 (e quatro dias depois no Brasil). Baseado num clássico de Júlio Verne, ganhou os Oscar de Melhores Efeitos Especiais e Melhor Cenografia, além de ter sido indicado por Melhor Edição. A Disney já havia produzido filmes em live-action antes, como A Ilha do Tesouro (1950), mas 20.000 Léguas exigiu de seus estúdios um inédito aparato técnico. Foi o primeiro longa metragem Disney filmado em CinemaScope, tecnologia recém-criada pela Fox que permitia uma imagem com quase o dobro da largura do formato até então usado. Aliás, a produção ocupou instalações da própria Fox e também da Universal, além de ter exigido a construção de um set adicional nos Estúdios Disney. Tanto apuro terminou por denunciar os truques mecânicos usados na sequência do ataque da lula gigante. Walt Disney e o diretor Richard Fleischer rejeitaram a primeira filmagem e reelaboraram a cena, acrescendo-lhe uma noite tempestuosa, com mar turbulento, ventos e raios. Richard era filho de Max Fleischer, dono dos estúdios de animação que trouxeram ao mundo Betty Boop. Por ser seu maior concorrente, Walt buscou certificar-se pessoalmente com Max de que não haveria objeções em contratar seu filho. O filme teve ainda grandes astros, como Kirk Douglas e James Mason. Curiosamente, porém, nem Júlio Verne, o autor da obra original, ou Walt Disney, o produtor, são citados como tais em seus créditos.

ABISMO NEGRO
Em 1979, após cinco anos em desenvolvimento e produção, a Disney lançou Abismo Negro, um filme ambicioso e caríssimo (que nunca se pagaria) que levou algo de 20.000 Léguas Submarinas para o espaço. Referenciado em Toy Story 2, TRON: O Legado e no game Epic Mickey, Abismo Negro ganhará remake da própria Disney. Dirigido pelo mesmo Joseph Kosinski de TRON: O Legado, o filme deve estrear nos cinemas em 2012.

JÚLIO VERNE
Júlio Verne (França, 1828-1905) é o precursor da ficção científica. Sua obra tem aspectos visionários, como a chegada do homem à Lua. Ao seu primeiro romance, Cinco Semanas em um Balão (1863), seguiram-se obras seminais como Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870) e A Volta ao Mundo em 80 Dias (1873). Verne teve mais de cem livros publicados. Sua obra foi traduzida para quase 150 línguas, o que o coloca na posição de escritor mais traduzido da história.

PATETA FAZ HISTÓRIA nas 20.000 Léguas Submarinas
Roteiro: Desconhecido
Desenhos: Hector Adolfo de Urtiága
Arte-Final: Carlos Valenti e Adalberto Rubén Torreiro
Publicada primeiro em 1978


PATETA FAZ HISTÓRIA como PT Barnum
Por Planeta Gibi. "Nasce um otário a cada minuto." A famigerada frase é frequente e erroneamente atribuída a Phineas Taylor Barnum. Mas Pateta, desta vez encarnando esse lendário showman americano, não perde a oportunidade de desfazer o mal entendido, usando a ironia sempre presente na série Pateta Faz História e atribuindo a origem da sentença a seu próprio pai, no dia de seu nascimento. Na verdade, ela teria sido proferida por um empresário concorrente de Barnum que expunha um falso gigante e ganhava rios de dinheiro com isso.

De todos os episódios desta coleção, Pateta Barnum provavelmente é o que segue com maior fidelidade a biografia do personagem retratado. E talvez seja assim porque a vida de Barnum foi pontuada por lances inacreditáveis, ótimos para uma HQ humorística. O caso do tal gigante, a propósito, é um exemplo perfeito. Quando Barnum não conseguiu convencer seu concorrente, Hannum, a vender-lhe a peça, decidiu construir seu próprio gigante tal qual relatado na HQ. Curiosamente, ele convence o público de que seu gigante é que era o verdadeiro, pois o havia comprado de Hannum, que agora estava a exibir uma fraude!

O leitor, portanto, conhecerá a trajetória de Barnum com bastante humor, mas sem se desviar muito da realidade. Exatamente como Pateta relata a Mickey, Barnum abandona o jornalismo, após ser processado e preso, e compra uma velha escrava com alegados 160 anos (que teria sido babá de George Washington!). Pois essa  bizarrice foi o pontapé inicial de um festival de aberrações que levou Pateta Barnum ao topo do show business e o transformou no primeiro astro milionário de que se tem notícia. Exatamente como ocorrido na vida real. Vários outros episódios semelhantes são mostrados na HQ, como a apresentação à Rainha Vitória de um de seus maiores sucessos, o anão General Polegar, e a consagradora turnê com a cantora Jenny Lind, o "Rouxinol Sueco" — aqui vivida por Clarabela, e com uma curiosidade para os leitores Disney: é a primeira vez que sua mãe é mostrada nos quadrinhos. O apetite de Pateta Barnum por aquisições espetaculares, como a tentativa de comprar as Cataratas do Niágara, ecoam os fatos: PT Barnum por pouco não adquiriu a casa onde William Shakespeare nascera, por exemplo. A fidelidade entre realidade e ficção, porém, é esquecida quando Pateta relata seus feitos ridículos (e divertidos) quando político e prefeito. A HQ também sugere que os irmãos Ringling teriam se associado a Barnum para fundar um circo, mas isso somente ocorreu muitos anos após a morte do showman, que já havia criado semelhante casa de espetáculo com Bailey.

O papel de Mickey na história é o de mero ouvinte de Pateta Barnum, tendo que interrompê-lo, por vezes, para justificar sua presença na HQ — como o próprio Mickey reclama. No final, porém, ele será colocado no papel de destacada figura da vida do biografado. Também o cãozinho presente desde o início da história igualmente guarda uma surpresa, revelada somente no último quadro.

Curiosidade final: Em O Vigilante de PizenBluff, Tio Patinhas contracena com o "verdadeiro" PT Barnum em boa parte da história. Trata-se do capítulo 6B de A Saga do Tio Patinhas, que saiu por aqui em duas oportunidades: em 2004, em TIO PATINHAS #465, e em 2007, no volume 2 do especial que compilou essa aclamada obra de Don Rosa.

PATETA FAZ HISTÓRIA como PT Barnum
Roteiro: Greg Crosby
Desenhos: Jaime Diaz Studio
Arte-Final: Adalberto Rubén Torreiro
Publicada primeiro em 1989


Editora Abril, coleção em 20 volumes semanais, 100 páginas cor, formato 14,7 x 20,7 cm, R$ 9,95
Editor: Paulo Maffia
Biografias: Júlio de Andrade, Filho
Introduções das HQs: Rivaldo Ribeiro






JOGO DOS 7 ERROS


Charles Laughton como dr. Moreau X Pateta nas 20.000 Léguas Submarinas

3 comentários:

  1. esse vol. 11 tem tudo pra ser memorável... se bobear, poderá até ser a melhor edição de toda a série!!!

    é cofre obrigatório....

    faz mto tempo q assisti o filme (20.000 léguas) e não lembro detalhes....

    mas na versão do livro q eu tenho (em pocket da editora Melhoramentos), o nome do assistente foi traduzido pra "Conselho" mesmo!!!

    já sobre Barnum, eu não sei quase nada... mas fiquei mto curioso pra ler essa história agora!!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Facilmente perceptível o salto quântico que PFH proporciona nas hqs corriqueiras. A perspicácia dos roteiros, a leveza das sátiras e a arte rebuscada enobrecem a coleção. PFH coroa com êxito e solidifica a nova esfuziante fase que vivemos nos quadrinhos Disney atuais da Abril. Gostaria de ver, em continuidade a PFH, as hqs antigas de Mickey, como numa coleção especial "Anos de Ouro" ou "Mickey Histórico" com aquelas delicias de hqs do gibi do rato de numeração abaixo de 100. É um desafio... nada digitalizado, tudo a ser refeito... Enfim, um pequeno abismo que nem Júlio Verne nem o Capitão Nemo hesitariam em transpor. Alguém aceitaria navegar bem mais que 20.000 léguas submarinas para alegrar um velho leitor? Pensem bem, o Mickey merece...

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